Parte 2 do meu Artigo Científico sobre: AS HABILIDADES E COMPETÊNCIAS DO DOCENTE DE ENSINO SUPERIOR COMO INSTRUMENTOS FACILITADORES NO PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM
Silvia Leticia M. de Abreu
1 Mudanças Institucionais
como resultados de mudanças Pessoais dos Docentes
Inicia-se
este estudo expressando algumas questões relacionadas ao desafio cotidiano do professor
em sala de aula. Assim, busca-se ressaltar que as mudanças atuais ocorridas no
cenário educacional vêm requerendo a reestruturação
do processo de ensino e de aprendizagem na sua forma pedagógica, uma vez que há
uma dinâmica contemporânea fundada em novos conceitos de educação, de
competência, de habilidades e, consequentemente, de formação profissional.
É
importante que se possa pensar um pouco sobre o que está acontecendo à nossa
volta: que mudanças vêm ocorrendo no mundo? Para onde se vai? Como se
posicionar diante dessas mudanças? Aonde se quer chegar? O que se precisa fazer
para acompanhá-las?
Respondendo
a tais indagações deve-se pensar em um sistema educacional que promova uma
prática pedagógica divergente das tendências atuais, é preciso, segundo uma
visão plena, repensar a formação do projeto pedagógico. É necessário, também,
reformular sua análise sob os ângulos do desenvolvimento organizacional, que
abrange, além da capacitação do educador, a missão, visão, valores, propostas da
instituição e sugestão para sua implementação.
No
entanto, a partir do momento em que se começa a conceber uma escola ou
instituição de ensino superior de prática diferenciada com menor isenção e
menor espírito de defesa, pode-se antever que o desequilíbrio cronológico entre
o que a sociedade impõe e o tempo das realizações, na esfera profissional,
estão com seus dias contados.
É
claro que mesmo reconhecendo o descompasso que ainda existe, ele não tem o
poder de diminuir a inquietação que se gera nos corpos diretivos, docentes,
discentes e na comunidade. Porém, a esperança se filtra quando der conta de
que, na nova ordem econômica e social, o futuro pertence àqueles que o estão
construindo hoje.
Com isso, é necessário um aumento dos
níveis de produtividade, qualidade e competitividade para a sobrevivência, a
expansão das empresas e o ingresso competitivo do Brasil na economia
internacional. (CHIAVENATO, 1999)
Todas essas transformações levarão a
um novo modelo, a um novo paradigma de organização da economia e da sociedade:
uma economia do saber. Defronta-se a todos diante da famosa e complicada
sociedade do conhecimento, na qual o recurso controlador não é mais o capital,
a terra ou a mão-de-obra, mas, sim, a capacidade e experiência dos indivíduos
que formam esta complexa organização.
Isso significa que, para se ter uma nação
competitiva, os gestores em educação e os docentes têm que mudar o modo de
entender e de agir em relação à educação. Eles precisam modificar
profundamente suas posturas em relação à educação.
2 O Professor como elemento chave no Processo de
Ensino e de Aprendizagem
O
ensino no Brasil, apesar de tantas inovações tecnológicas levadas à sala de
aula, ainda centra-se na aquisição de conteúdos. E o professor ainda é o centro
do processo de ensino e de aprendizagem.
Eis
o paradigma que ainda norteia o processo de ensino e de aprendizagem em nossas
escolas e instituições: o professor é colocado na posição daquele que
"possui" o conhecimento e sua tarefa é "transmiti-lo" aos
alunos. (CHAVES, 1981)
Embora
já faça parte do discurso educacional de que não se aprende apenas na escola, a
prática pedagógica revela a crença presente no interior das instituições
escolares de que a aquisição de conhecimentos válidos passa somente pela
escolaridade.
Será
que isso basta para atender as necessidades da sociedade atual e também do
aluno que nela vive? Estudiosos contemporâneos, afirmam, que as transformações
pelas quais a sociedade está passando, estão criando uma nova cultura e
modificando as formas de produção e apropriação dos saberes.
Caberia
então aos professores mediar à construção do processo de conceituação a ser
apropriado pelos alunos, buscando a promoção da aprendizagem e desenvolvendo
habilidades importantes para que eles participem da sociedade que muitos
estão chamando de "sociedade do conhecimento".
O
professor é um elemento chave na organização de ensino no processo de
aprendizagem, pois lhe compete dar condições para que o aluno "aprenda a
aprender", desenvolvendo situações de aprendizagens que se diferenciam,
estimulando a articulação entre saberes e competências. Reafirma-se,
assim, a aprendizagem como uma construção, cujo pilar é o próprio
aprendiz.
Tem-se
dessa maneira: o processo de desenvolver habilidades através
dos conteúdos. Em lugar de continuar a decorar conteúdos, o aluno passará a
exercitar habilidades, e através delas, a aquisição de grandes competências,
principalmente nas instituições de ensino superior, onde os alunos desenvolvem
saberes específicos daquela que será sua futura profissão, mas para que isso
aconteça primeiramente o professor deve ter e saber usar as habilidades e
competências que lhe pertence. (GENTILI e BENCINI, 2009)
De
forma geral, pode-se dizer que, o que levará, efetivamente, ao bom êxito do
programa, será a capacitação dos professores, para que possam atuar com
desenvoltura e segurança em relação à nova proposta.
O que vem ocorrendo no ensino é uma
dependência muito grande do professor em relação ao conteúdo programático, em
detrimento de sua própria função em sala de aula. Daí, na presente orientação,
a responsabilidade cair sobre o professor, independentemente do livro ou
apostilas que se utiliza para cumprir tais conteúdos.
Fica
evidente nesta proposta a necessidade da existência de uma atividade
construtiva sobre os objetos do conhecimento, desse modo, cumprindo a função
primordial da escola que é a de ensinar, agindo e intervindo para que os alunos
aprendam o que sozinhos não teriam condições de fazê-lo por si mesmos.
Como
conseqüência, terá também uma necessária mudança no conceito do que é ensinar.
O que predomina é o conceito de ensino enquanto informação, que se apóia numa
relação passiva professor-aluno, que na maioria das vezes por meio do livro
didático, "transmite" as informações para o aluno, que normalmente as
repetem, sem conseguir associá-las a uma interpretação e ligação com a realidade,
que forneça sentido a própria aprendizagem.
Daí,
uma das grandes dificuldades que o aluno encontra para processar e transferir
essas informações para diferentes campos do saber, ou para situações que exigem
uma real compreensão de conceitos.
3.3 A Formação Humana e a Capacitação Profissional
do Professor como Elo entre Aluno e Conhecimento
Para se
buscar, sobretudo, o desenvolvimento de competências e o fortalecimento de
habilidades, a formação humana e a capacitação técnica dos professores, as
instituições necessitam repensar a organização do trabalho, as práticas
pedagógicas, seus projetos pedagógicos e elaborar um Plano de Desenvolvimento
Organizacional articulado e permeado pela organicidade acadêmica e
administrativa.
Por tanto um
docente que tem uma boa formação humana terá a consciência de que necessita
desenvolver suas habilidades e competências através de capacitações; com isso
saberá conduzir seus alunos rumo ao conhecimento. (GENTILI e BENCINI, 2009)
Conforme
Maturana (2000), na tarefa educativa distinguem-se dois fenômenos principais, a
formação humana e a capacitação. O autor considera que formação humana é o
fundamento de todo o processo educativo, em suas palavras afirma:
[...] consiste
na criação das condições que guiam e apoiam a criança em seu crescimento como
um ser capaz de viver no auto-respeito pelo outro [..] e cuja individualidade,
identidade e confiança em si mesma não se fundamentam na oposição ou diferença com relação aos outros,
mas no respeito por si mesma, de modo que possa colaborar precisamente porque
não teme desaparecer na relação (2000, p.2)
Quanto à capacitação pensada como a
aquisição de habilidades e capacidades de ação do mundo no qual se vive, deve
ser compreendida como função de instrumentalizar os recursos operacionais para
se realizar o que se deseja viver.
Em
complementação a esta ideia, para Maturana (2000), a capacitação como tarefa
educacional, consiste na criação de espaços de ação onde se exercitem essas habilidades
criando um âmbito de reflexão sobre o fazer como parte do viver.
Portanto,
formação e capacitação se entrecruzam no processo humano de ser e vir a ser,
refletindo assim no uso das habilidades e competências.
A
capacitação é um fator fundamental para o professor. Não apenas a graduação
universitária ou a pós-graduação, mas na perspectiva de uma capacitação
continuada, com amplitude em vistas às atualizações e os aperfeiçoamentos
profissionais.
Por
exemplo, não basta que um professor de matemática conheça profundamente a
matéria, ele precisa entender de psicologia, pedagogia, linguagem, sexualidade,
infância, adolescência, sonho, afeto, vida. Não basta que o professor de
geografia conheça bem sua área e consiga dialogar com áreas afins como história;
ele precisa entender de ética, política, amor, projetos, família. Não se podem
compartimentar o conhecimento e contentar-se com bons especialistas em cada uma
das áreas. (PELLEGRINI,
2000)
Para
que um professor desempenhe com maestria a aula na matéria de sua
especialidade, ele precisa conhecer as demais matérias, os temas transversais
que devem perpassar todas elas e acima de tudo, conhecer o aluno. Tudo o que
diz respeito ao aluno deve ser de interesse do professor. Ninguém ama o que não
se conhece, e o aluno precisa ser amado! E o professor é capaz de fazer isso.
Para
quem teve uma formação rígida, é difícil expressar sentimentos; há pessoas que
não conseguem elogiar, que não conseguem abraçar ou sorrir. O professor tem que
quebrar essas barreiras e trabalhar suas limitações e as dos alunos. (SANDERS, 2003)
Não
há como separar o ser humano profissional do ser humano pessoal. Certamente o
professor, como qualquer pessoa, terá seus problemas pessoais, chegará algumas
vezes à escola mais impaciente que o habitual e terá mais dificuldades em
desempenhar seu trabalho em sala de aula. Os alunos notarão a diferença e a
eventual impaciência do professor nesse dia, mas eles não sabem os motivos da
sisudez do mestre e podem interpretar erroneamente.
Exatamente
por isso é preciso cuidar para que contrariedades pessoais não venham à tona,
causando mágoas e ressentimentos, para que isso não comprometa o processo de
ensino e de aprendizagem, e, é aí que se insere a importância da inteligência
emocional dele. (BERROCAL, 2000)
Ao
enfrentar problemas de ordem pessoal o professor deve procurar o melhor meio
para sair do estado de espírito sombrio e poder desempenhar seu trabalho com
serenidade.
A leitura dos clássicos, o contato com a arte,
com a natureza, uma boa terapia, uma reflexão mais profunda sobre a
contrariedade porque se está passando pode ajudar muito. Ninguém é mal em
essência, mas um professor descontrolado deve rever seu comportamento sob pena
de ser mal interpretado por seus alunos. (BERROCAL, 2000)
Sabe-se
que a dificuldade financeira é um obstáculo para a maior parte dos professores
deste país, mas não pode servir de desculpa: há numerosos programas culturais
gratuitos, há bibliotecas públicas e virtuais, a natureza está aí e não cobra
nada para que a contemple.
Não
se trata de ignorar a lamentável situação em que os professores se encontram no
que diz respeito aos patamares salariais. Entretanto, isso não pode ser
desculpa para acomodação, para a negligência ou para a impaciência.
O
professor tem o direito constitucional de fazer greve e ninguém pode deixar de
respeitá-lo por isso, mas ele não tem o direito de ser negligente,
incompetente, displicente, porque o aluno não tem culpa.
Se
o problema é com os administradores, eles é que devem ser enfrentados. É melhor
entrar em greve, com todos os problemas decorrentes disso, do que ministrar uma
aula sem motivação apenas porque não ganha suficiente ou porque está com
problemas de ordem pessoal. (GLADWELL, 2002)
O
professor precisa acreditar no que diz; ter convicção em seus ensinamentos,
para que seus alunos também acreditem e se sintam envolvidos. Precisa de
preparo para ir ao rumo certo e alcançar os objetivos que almeja.
O
professor que não prepara sua aula desrespeita os alunos e o próprio ofício, caracterizando-se
à um médico que entra no centro cirúrgico sem saber o que vai fazer e sem os
instrumentos adequados.
Tudo
na vida exige uma preparação. Uma aula que se prepara, organiza-se, com
conteúdos antes já refletidos muito provavelmente será bem sucedida. Aula
previamente preparada não significa em aula limitada: não lhe dará o direito de
falar compulsivamente, sem permitir intervenção do aluno, não dialogar com a
vida, não oferecer ocasião propícia a dúvidas; o professor não deixará de
discutir outros temas que surgirem apenas porque tem que cumprir o roteiro de
aula que preparou. Pode até ocorrer que ele ministre uma aula diferente daquela
que ele planejou, mas isso não deixará de ser enriquecedor. . (GLADWELL, 2002)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERROCAL, P. Fernández e
PACHECO, N. Extremera: La inteligencia emocional.
CHAVES, E. O. C. O curso de pedagogia: Um
Breve Histórico e um Resumo da Situação Atual. In: Cadernos CEDES, ano 1, n. 2.
Rio de Janeiro: Cortez, 1981.
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 2. Edição. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
GENTILI, Paola; BENCINI, Roberta. Para Aprender e Desenvolver Competências. Revista
Nova Escola on-line: São Paulo, n. 135, set. 2000. Acesso em: abril. 2009.
GLADWELL, Malcom. O Ponto
de desequilíbrio. Rio de Janeiro: Rocco, 2002.
MATURANA, Humberto; REZEPKA, sima Nisis de. Formação Humana e Capacitação. Rio de
Janeiro: Ed. Vozes, 2000.
PELLEGRINI, Denise. Referenciais do MEC mostram
competências que o professor precisa desenvolver para dar aulas melhores.
Revista Nova Escola on-line: São Paulo, n. 131, abr. 2000. . Acesso em: mar.
2005.
SANDERS, Tim. O amor é a
melhor estratégia. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.