quarta-feira, 3 de junho de 2015

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E A INFLUÊNCIA DE SUAS HABILIDADES E COMPETÊNCIAS NO PROCESSO DE MUDANÇAS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM

Parte 2 do meu Artigo Científico sobre: AS HABILIDADES E COMPETÊNCIAS DO DOCENTE DE ENSINO SUPERIOR COMO INSTRUMENTOS FACILITADORES NO PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM


Silvia Leticia M. de Abreu

 

 

1 Mudanças Institucionais como resultados de mudanças Pessoais dos Docentes

Inicia-se este estudo expressando algumas questões relacionadas ao desafio cotidiano do professor em sala de aula. Assim, busca-se ressaltar que as mudanças atuais ocorridas no cenário educacional vêm requerendo a reestruturação do processo de ensino e de aprendizagem na sua forma pedagógica, uma vez que há uma dinâmica contemporânea fundada em novos conceitos de educação, de competência, de habilidades e, consequentemente, de formação profissional.
É importante que se possa pensar um pouco sobre o que está acontecendo à nossa volta: que mudanças vêm ocorrendo no mundo? Para onde se vai? Como se posicionar diante dessas mudanças? Aonde se quer chegar? O que se precisa fazer para acompanhá-las?
Respondendo a tais indagações deve-se pensar em um sistema educacional que promova uma prática pedagógica divergente das tendências atuais, é preciso, segundo uma visão plena, repensar a formação do projeto pedagógico. É necessário, também, reformular sua análise sob os ângulos do desenvolvimento organizacional, que abrange, além da capacitação do educador, a missão, visão, valores, propostas da instituição e sugestão para sua implementação.
No entanto, a partir do momento em que se começa a conceber uma escola ou instituição de ensino superior de prática diferenciada com menor isenção e menor espírito de defesa, pode-se antever que o desequilíbrio cronológico entre o que a sociedade impõe e o tempo das realizações, na esfera profissional, estão com seus dias contados.
É claro que mesmo reconhecendo o descompasso que ainda existe, ele não tem o poder de diminuir a inquietação que se gera nos corpos diretivos, docentes, discentes e na comunidade. Porém, a esperança se filtra quando der conta de que, na nova ordem econômica e social, o futuro pertence àqueles que o estão construindo hoje.
Com isso, é necessário um aumento dos níveis de produtividade, qualidade e competitividade para a sobrevivência, a expansão das empresas e o ingresso competitivo do Brasil na economia internacional. (CHIAVENATO, 1999)                           
Todas essas transformações levarão a um novo modelo, a um novo paradigma de organização da economia e da sociedade: uma economia do saber. Defronta-se a todos diante da famosa e complicada sociedade do conhecimento, na qual o recurso controlador não é mais o capital, a terra ou a mão-de-obra, mas, sim, a capacidade e experiência dos indivíduos que formam esta complexa organização.
 Isso significa que, para se ter uma nação competitiva, os gestores em educação e os docentes têm que mudar o modo de entender e de agir em relação à educação. Eles precisam modificar profundamente suas posturas em relação à educação.

2  O Professor como elemento chave no Processo de Ensino e de Aprendizagem

O ensino no Brasil, apesar de tantas inovações tecnológicas levadas à sala de aula, ainda centra-se na aquisição de conteúdos. E o professor ainda é o centro do processo de ensino e de aprendizagem.                                                              
Eis o paradigma que ainda norteia o processo de ensino e de aprendizagem em nossas escolas e instituições: o professor é colocado na posição daquele que "possui" o conhecimento e sua tarefa é "transmiti-lo" aos alunos. (CHAVES, 1981)
Embora já faça parte do discurso educacional de que não se aprende apenas na escola, a prática pedagógica revela a crença presente no interior das instituições escolares de que a aquisição de conhecimentos válidos  passa somente pela escolaridade.           
Será que isso basta para atender as necessidades da sociedade atual e também do aluno que nela vive? Estudiosos contemporâneos, afirmam, que as transformações pelas quais a sociedade está passando, estão criando uma nova cultura e modificando as formas de produção e apropriação dos saberes.                                            
Caberia então aos professores mediar à construção do processo de conceituação a ser apropriado pelos alunos, buscando a promoção da aprendizagem e desenvolvendo habilidades importantes para que eles participem da sociedade  que muitos estão chamando de "sociedade do conhecimento".
O professor é um elemento chave na organização de ensino no processo de aprendizagem, pois lhe compete dar condições para que o aluno "aprenda a aprender", desenvolvendo situações de aprendizagens que se diferenciam, estimulando a articulação entre saberes e competências.  Reafirma-se, assim, a aprendizagem como uma construção, cujo pilar é o próprio aprendiz. 
Tem-se dessa maneira:  o processo de desenvolver habilidades através dos conteúdos. Em lugar de continuar a decorar conteúdos, o aluno passará a exercitar habilidades, e através delas, a aquisição de grandes competências, principalmente nas instituições de ensino superior, onde os alunos desenvolvem saberes específicos daquela que será sua futura profissão, mas para que isso aconteça primeiramente o professor deve ter e saber usar as habilidades e competências que lhe pertence. (GENTILI e BENCINI, 2009)                          
De forma geral, pode-se dizer que, o que levará, efetivamente, ao bom êxito do programa, será a capacitação dos professores, para que possam atuar com desenvoltura e segurança em relação à nova proposta.                         
   O que vem ocorrendo no ensino é uma dependência muito grande do professor em relação ao conteúdo programático, em detrimento de sua própria função em sala de aula. Daí, na presente orientação, a responsabilidade cair sobre o professor, independentemente do livro ou apostilas que se utiliza para cumprir tais conteúdos.
Fica evidente nesta proposta a necessidade da existência de uma atividade construtiva sobre os objetos do conhecimento, desse modo, cumprindo a função primordial da escola que é a de ensinar, agindo e intervindo para que os alunos aprendam o que sozinhos não teriam condições de fazê-lo por si mesmos.
Como conseqüência, terá também uma necessária mudança no conceito do que é ensinar. O que predomina é o conceito de ensino enquanto informação, que se apóia numa relação passiva professor-aluno, que na maioria das vezes por meio do livro didático, "transmite" as informações para o aluno, que normalmente as repetem, sem conseguir associá-las a uma interpretação e ligação com a realidade, que forneça sentido a própria aprendizagem.
Daí, uma das grandes dificuldades que o aluno encontra para processar e transferir essas informações para diferentes campos do saber, ou para situações que exigem uma real compreensão de conceitos.

3.3  A Formação Humana e a Capacitação Profissional do Professor como Elo entre Aluno e Conhecimento

Para se buscar, sobretudo, o desenvolvimento de competências e o fortalecimento de habilidades, a formação humana e a capacitação técnica dos professores, as instituições necessitam repensar a organização do trabalho, as práticas pedagógicas, seus projetos pedagógicos e elaborar um Plano de Desenvolvimento Organizacional articulado e permeado pela organicidade acadêmica e administrativa.
Por tanto um docente que tem uma boa formação humana terá a consciência de que necessita desenvolver suas habilidades e competências através de capacitações; com isso saberá conduzir seus alunos rumo ao conhecimento. (GENTILI e BENCINI, 2009)
Conforme Maturana (2000), na tarefa educativa distinguem-se dois fenômenos principais, a formação humana e a capacitação. O autor considera que formação humana é o fundamento de todo o processo educativo, em suas palavras afirma:
[...] consiste na criação das condições que guiam e apoiam a criança em seu crescimento como um ser capaz de viver no auto-respeito pelo outro [..] e cuja individualidade, identidade e confiança em si mesma não se fundamentam na  oposição ou diferença com relação aos outros, mas no respeito por si mesma, de modo que possa colaborar precisamente porque não teme desaparecer na relação (2000, p.2)

            Quanto à capacitação pensada como a aquisição de habilidades e capacidades de ação do mundo no qual se vive, deve ser compreendida como função de instrumentalizar os recursos operacionais para se realizar o que se deseja viver.
Em complementação a esta ideia, para Maturana (2000), a capacitação como tarefa educacional, consiste na criação de espaços de ação onde se exercitem essas habilidades criando um âmbito de reflexão sobre o fazer como parte do viver.
Portanto, formação e capacitação se entrecruzam no processo humano de ser e vir a ser, refletindo assim no uso das habilidades e competências.
            A capacitação é um fator fundamental para o professor. Não apenas a graduação universitária ou a pós-graduação, mas na perspectiva de uma capacitação continuada, com amplitude em vistas às atualizações e os aperfeiçoamentos profissionais.
Por exemplo, não basta que um professor de matemática conheça profundamente a matéria, ele precisa entender de psicologia, pedagogia, linguagem, sexualidade, infância, adolescência, sonho, afeto, vida. Não basta que o professor de geografia conheça bem sua área e consiga dialogar com áreas afins como história; ele precisa entender de ética, política, amor, projetos, família. Não se podem compartimentar o conhecimento e contentar-se com bons especialistas em cada uma das áreas. (PELLEGRINI, 2000)
            Para que um professor desempenhe com maestria a aula na matéria de sua especialidade, ele precisa conhecer as demais matérias, os temas transversais que devem perpassar todas elas e acima de tudo, conhecer o aluno. Tudo o que diz respeito ao aluno deve ser de interesse do professor. Ninguém ama o que não se conhece, e o aluno precisa ser amado! E o professor é capaz de fazer isso.
Para quem teve uma formação rígida, é difícil expressar sentimentos; há pessoas que não conseguem elogiar, que não conseguem abraçar ou sorrir. O professor tem que quebrar essas barreiras e trabalhar suas limitações e as dos alunos. (SANDERS, 2003)
Não há como separar o ser humano profissional do ser humano pessoal. Certamente o professor, como qualquer pessoa, terá seus problemas pessoais, chegará algumas vezes à escola mais impaciente que o habitual e terá mais dificuldades em desempenhar seu trabalho em sala de aula. Os alunos notarão a diferença e a eventual impaciência do professor nesse dia, mas eles não sabem os motivos da sisudez do mestre e podem interpretar erroneamente.
Exatamente por isso é preciso cuidar para que contrariedades pessoais não venham à tona, causando mágoas e ressentimentos, para que isso não comprometa o processo de ensino e de aprendizagem, e, é aí que se insere a importância da inteligência emocional dele.  (BERROCAL, 2000)
Ao enfrentar problemas de ordem pessoal o professor deve procurar o melhor meio para sair do estado de espírito sombrio e poder desempenhar seu trabalho com serenidade.
 A leitura dos clássicos, o contato com a arte, com a natureza, uma boa terapia, uma reflexão mais profunda sobre a contrariedade porque se está passando pode ajudar muito. Ninguém é mal em essência, mas um professor descontrolado deve rever seu comportamento sob pena de ser mal interpretado por seus alunos. (BERROCAL, 2000)
Sabe-se que a dificuldade financeira é um obstáculo para a maior parte dos professores deste país, mas não pode servir de desculpa: há numerosos programas culturais gratuitos, há bibliotecas públicas e virtuais, a natureza está aí e não cobra nada para que a contemple.
Não se trata de ignorar a lamentável situação em que os professores se encontram no que diz respeito aos patamares salariais. Entretanto, isso não pode ser desculpa para acomodação, para a negligência ou para a impaciência.
O professor tem o direito constitucional de fazer greve e ninguém pode deixar de respeitá-lo por isso, mas ele não tem o direito de ser negligente, incompetente, displicente, porque o aluno não tem culpa.
Se o problema é com os administradores, eles é que devem ser enfrentados. É melhor entrar em greve, com todos os problemas decorrentes disso, do que ministrar uma aula sem motivação apenas porque não ganha suficiente ou porque está com problemas de ordem pessoal. (GLADWELL, 2002)
O professor precisa acreditar no que diz; ter convicção em seus ensinamentos, para que seus alunos também acreditem e se sintam envolvidos. Precisa de preparo para ir ao rumo certo e alcançar os objetivos que almeja.
O professor que não prepara sua aula desrespeita os alunos e o próprio ofício, caracterizando-se à um médico que entra no centro cirúrgico sem saber o que vai fazer e sem os instrumentos adequados.
Tudo na vida exige uma preparação. Uma aula que se prepara, organiza-se, com conteúdos antes já refletidos muito provavelmente será bem sucedida. Aula previamente preparada não significa em aula limitada: não lhe dará o direito de falar compulsivamente, sem permitir intervenção do aluno, não dialogar com a vida, não oferecer ocasião propícia a dúvidas; o professor não deixará de discutir outros temas que surgirem apenas porque tem que cumprir o roteiro de aula que preparou. Pode até ocorrer que ele ministre uma aula diferente daquela que ele planejou, mas isso não deixará de ser enriquecedor. . (GLADWELL, 2002)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERROCAL, P. Fernández e PACHECO, N. Extremera: La inteligencia emocional.
CHAVES, E. O. C. O curso de pedagogia: Um Breve Histórico e um Resumo da Situação Atual. In: Cadernos CEDES, ano 1, n. 2. Rio de Janeiro: Cortez, 1981.

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 2. Edição. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 


GENTILI, Paola; BENCINI, Roberta. Para Aprender e Desenvolver Competências. Revista Nova Escola on-line: São Paulo, n. 135, set. 2000. Acesso em: abril. 2009.
GLADWELL, Malcom. O Ponto de desequilíbrio. Rio de Janeiro: Rocco, 2002. 
MATURANA, Humberto; REZEPKA, sima Nisis de. Formação Humana e Capacitação. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2000.
PELLEGRINI, Denise. Referenciais do MEC mostram competências que o professor precisa desenvolver para dar aulas melhores. Revista Nova Escola on-line: São Paulo, n. 131, abr. 2000. . Acesso em: mar. 2005.
SANDERS, Tim. O amor é a melhor estratégia. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.